Alguns dias antes da 10ª Semana Estadual de C & T, em entrevista a um jornalista que pretendia publicar matéria sobre os projetos selecionados pela 2ª Feira de Ciências e Engenharia, eu comentava sobre o papel da Robótica Educacional no contexto da realidade escolar e social daqueles alunos. Afinal, Robótica Educacional não é um “curso de robótica”. E se não preparamos técnicos em robótica, programação ou manutenção de computadores e também não vemos o termo “robótica” escrito no currículo escolar, o que temos a contribuir para a formação desses alunos com uma atividade que envolve a construção de bonecos e carrinhos utilizando um kit produzido por uma gigante da indústria de brinquedos? E mais: por que um fundo de apoio a Ciência e Tecnologia investiria dinheiro em um grupo de estudantes de Ensino Fundamental que ainda estão longe de passar pela academia <ironia> onde aprenderão a ser cientistas de verdade? </ironia
Parece estranho não?! De fato… Quando entendemos a escola tradicional sob a mesma perspectiva de 30 anos atrás (ou mais), quando o conhecimento era quase exclusivamente buscado nas palavras do professor, nos livros didáticos e em alguns poucos volumes da biblioteca escolar, a ciência ainda era considerada um privilégio para poucos. O “clima” ainda era o mesmo da Idade Média… Havia poucos mestres e alguns aprendizes. A maioria não se envolvia com assuntos “tão complexos”. Era coisa para poucos gênios “super-dotados”.
Então será que estamos finalmente testemunhando o alvorecer de uma escola diferente? Será que após tantos anos de inércia a escola está derrubando os seus muros e ampliando as suas salas de aula para que consigam abarcar o mundo? Hoje, a tecnologia da informação permite acessar praticamente todo o conhecimento da humanidade a partir de um terminal de computador com acesso à internet. Um simples computador abre as portas do mundo e liberta. Mas é preciso que a escola estimule o interesse, a curiosidade, a vontade de aprender.
Será que a escola está se percebendo obsoleta? Será que o instinto da autopreservação que finalmente a faz considerar positiva uma experiência criativa vivida fora da sala de aula e do currículo formal?
Não sei os motivos. Mas vejo claramente a Robótica Educacional como uma das tentativas de adaptar a escola à “sociedade da informação”. Como fruto de um dedicado esforço criativo, percebo nela a verdadeira essência da ciência enquanto processo mais do que produto. Cooperação, curiosidade, criatividade e valorização do erro são algumas habilidades especialmente desenvolvidas nas atividades que envolvem Robótica Educacional. Em todas as aulas vejo alunos pesquisando novos projetos, tentando criar protótipos mais velozes, mais ágeis, mais fortes… Movidos apenas pela inquietação ante a dúvida e pelo prazer da descoberta, eles passam horas analisando uma programação que por algum motivo insiste em não atender às suas demandas. Será que precisam inventar um robô que ande em Marte para serem considerados cientistas? Será que precisam produzir resultados práticos relevantes para a resolução dos problemas da humanidade para que possam receber bolsas de incentivo em iniciação científica?
Felizmente, ao menos a Companhia de Desenvolvimento de Vitória e o Conselho de Ciência e Tecnologia do município pensam diferente. E como o futuro agradece a essa posição de vanguarda!
Há pouco mais de 21 anos, quando ainda no 3º período da graduação resolvi me tornar professor de Ensino Fundamental, eu só não imaginava que esse início de mudança demoraria tanto!
Por Ivanor Weiler Junior – Professor e diretor da Escola da Ciência Física e representante da Secretaria de Educação no Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia.